Fazer a vacina da pneumonia pode ajudar toda a sociedade


O pneumologista José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão, falou com a SÁBADO sobre a importância desta vacina, ainda maior em tempos de pandemia de Covid-19.

Por que razão é que as pessoas que integram os grupos de risco não tomam a vacina?
Acredito que há dois tipos de problema: um é o de não estarem informadas e outro é não terem dinheiro. Um dia em que estávamos a promover a vacinação, uma médica perguntava como é que se arranja o dinheiro. Há casos-limite em que as pessoas não têm dinheiro, como os mais idosos? A vacina custa cerca de 50 euros. O Estado depois paga um terço, mas não a todos. O que o Governo pode e deve, na minha opinião e na da Fundação Portuguesa do Pulmão, é pagar a vacina na totalidade aos grupos de risco.

A vacina da pneumonia pode ser tomada com a da gripe?
Cientificamente, não há nenhuma incompatibilidade. Mas clinicamente, defendemos a separação das vacinas por duas semanas.

As pessoas estão mais atentas às doenças respiratórias agora que existe a Covid-19?
Algumas pessoas têm mais medo destas doenças. Mas há muitas que têm medo da Covid-19, deste desconhecido, e não me parece que a liguem sequer à palavra pneumonia. As pessoas com a Covid-19 têm uma pneumonia vírica, os casos mais graves podem sofrer de embolismo pulmonar e problemas de oxigenação. Mas as pessoas não juntam a pneumonia à Covid-19.

A pandemia veio tornar a vacina da gripe e da pneumonia muito mais importantes do que já eram. Se até agora era fundamental fazer-se a vacina nos grupos de risco, agora ainda é mais. Não só em termos individuais, mas também de resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Está a ser posto em causa, estamos com uma subida muito maior dos casos de Covid-19. Agora adicione a gripe, que durante uma semana normalmente coloca o SNS todo em causa, e a pneumonia que costuma vir a seguir. Fazer a vacina da pneumonia pode ajudar toda a sociedade.

Entre os grupos de risco, como é feita a prevenção da pneumonia?
Têm que evitar vários comportamentos de risco que aumentam a probabilidade de sofrer da doença. Por exemplo, doentes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) não devem fumar. É evidente que também se têm que vacinar contra a gripe. E depois, o aparecimento da pneumonia pneumocócica é sempre uma interação entre o pneumococo e o doente. Sempre que há uma diminuição da imunidade ou alteração da normalidade anatómica, como acontece na insuficiência renal, cardíaca, essa diminuição das defesas facilita a agressão do pneumococo. Ao vacinar estes doentes, estamos a aumentar-lhes a imunidade e a prepará-los para uma agressão específica do organismo. Não há pneumonia, não há internamentos, não há infeções respiratórias.

E o que devem fazer as pessoas fora dos grupos de risco?
Eu por exemplo, muito antes de pertencer a um grupo de risco, o da idade, muito antes, tomei a vacina. Por uma razão é simples: a pneumonia é mais frequente nos grupos de risco, mas ocorre em todas as outras idades. E pode ter consequências muito nefastas. Na minha vida profissional e pessoal, lembro-me de duas ou três pessoas que em idades muito jovens tiveram pneumonia a quem se teve de dizer adeus em definitivo. Atualmente, temos muito pouco respeito pelas pneumonias. Tive doentes que me perguntaram se podiam ir fazer exercício. Também há mais capacidade médica, e, historicamente, sempre que há aumento da capacidade médica há desrespeito pelas doenças e até por tudo o que está ligado à saúde. "Isso trata-se", pensam. Mas às vezes não se trata.

Artigo por Prof. Dr. José Alves no jornal Sábado publicado a 16.09.20
Fundação Portuguesa do Pulmão

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