Refletir o Dia Mundial da Asma em ambiente COVID-19


Para assinalar o Dia Mundial da Asma, acompanhamos a iniciativa de "Global Inicitive for Asthma" (GINA) e seguindo o seu lema para este ano, "Chega de mortes por asma" vamos reflectir esta doença e a sua morbilidade/mortalidade, em ambiente covid-19.

Para isso, convidámos a Dra. Carla Loureiro, médica Pediatra, responsável pelos doentes com asma grave, da consulta de Alergologia do Hosp. Pediátrico /CHUC e a Profª. Cláudia Loureiro, Pneumologista, responsável pela consulta de Asma Grave do Hosp. Univ. de Coimbra / CHUC, que amavelmente e em conjunto, por razões de limitação de espaço, nos enviaram o texto seguinte.

A razão da escolha do tema por Gina - Global Iniciative for Asthma "Chega de mortes por asma" não foi porque estejamos em tempos de pandemia, mas porque a asma, se não estiver controlada, pode matar!

Admitindo-se, que a mortalidade direta por asma é residual, poderá estar camuflada e aumentada pelos efeitos indirectos, quer da própria doença, quer dos efeitos secundários de terapêuticas, por vezes necessárias para controlar as crises, como é o caso dos corticóides sistémicos, originando por exemplo doença cardiovascular, diabetes ou obesidade.

Concretamente, em relação ao aumento de risco específico relacionado com a Covid-19 para os doentes asmáticos,até Abril de 2020, a evidência científica não aponta para esse facto e esta associação parece não ocorrer: em análises multivariadas de estudos provenientes da China, entre outros e, a existência de asma, não se associou a maior probabilidade para desenvolver ou morrer pela Covid-19.

Tal como nos adultos, também nas crianças não parece haver evidência de maior risco de asma associado a Covid-19. Este vírus não se tem demonstrado particularmente agressivo nem com as crianças em geral que, maioritariamente, são assintomáticas ou apresentam sintomas ligeiros de infeção respiratória ou digestiva inespecíficas, nem em particular com as crianças asmáticas.

Não obstante, é absolutamente essencial que agora, como sempre, os asmáticos - adultos e crianças - cumpram os passos necessários para manter a sua asma controlada e isso inclui a adesão terapêutica ao plano prescrito pelo seu médico, de forma a evitar um descontrolo da doença e um eventual episódio de cuidados de saúde, que por si só, aumentará o risco de contágio.

Em tempos de pandemia (e fora dela) é essencial que o asmático cumpra o seu esquema individual terapêutico e o ajuste de acordo com o plano de ação que estiver definido pelo seu médico para os ataques de asma, devendo estar especialmente atento aos sintomas e sinais de alarme, fazendo esse ajuste de forma precoce e proporcionada.

Em caso de crise, o asmático deve contactar o médico assistente e/ou unidade de saúde sempre que necessário, para que, de acordo com uma abordagem baseada no grau de gravidade, seja orientado da forma mais adequada.

Nos casos de crianças, adolescentes e adultos com asma grave ou de difícil controlo, aplicam-se os mesmos princípios: devem manter todo o seu tratamento habitual, que pode incluir terapêutica com fármacos de administração hospitalar e, eventualmente, corticoterapia sistémica. O tratamento de crise deve ser instituído precocemente e, sempre que necessário, deve ser contactado o médico assistente. O tratamento da crise de asma deve incluir todos os fármacos necessários ao seu controlo, dependendo da gravidade da crise. A suspensão/alteração da terapêutica prescrita sem orientação do seu médico pode levar à descompensação da asma.

No próximo ano o panorama mundial em relação à pandemia Covid-19 estará provavelmente diferente porque o mundo reagiu, ficou alerta, colaborou e quebrou barreiras.

O caminho na asma, especialmente na grave, deve seguir os mesmos princípios!

Carla Chaves Loureiro - MD, MsC (Pediatra)
Claudia Chaves Loureiro - MD, PhD (Pneumologista)


Artigo por Mário Loureiro no jornal "As Beiras" a 5 de Maio
Responsável Delegação de Coimbra Fundação Portuguesa do Pulmão


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