Tuberculose
Investir para acabar com a tuberculose ? salvar vidas
Há coisas que são tão evidentes, que quase não são precisos estudos para as confirmar. O papel negativo da epidemia covid, para além dos seus efeitos directos na saúde dos atingidos, provocou um desvio de esforços de actividades de promoção, prevenção, diagnóstico atempado e tratamentos correctos e completos de inúmeras doenças. Já muitas vezes foram falados os problemas com a detecção tardia de doenças cardiovasculares e oncológicas, a que assistimos no nosso país. Nos países economicamente débeis, se essas doenças também se terão ressentido, o impacto em doenças que podem ser controladas e tratadas, como é o caso da tuberculose, a redução do apoio aos programas sanitários ? para menos de metade ? tem consequências preocupantes para o futuro.
A tuberculose continua a causar uma média de 4 mil mortes diárias (!) a nivel mundial, por total falta de acesso ao tratamento eficaz. Em largas zonas do globo a doença, contagiosa, vai-se transmitindo entre as pessoas (ainda mais com as grandes concentrações populacionais, vivendo sem condições de habitabilidade) e depois conduzindo à morte de cerca de metade dos doentes. Cerca de 6 milhões de casos são reportados anualmente; a esta multidão se calculam outros 3 a 4 milhões de doentes que não chegam a ser registados!
As situações de guerra (umas mais mediáticas que outras, mas todas terríveis para quem as sofre) criam também todo o ambiente propício para o agravar deste tipo de problemas. A Organização Mundial da Saúde chama atenção, nos 140 anos da descoberta do bacilo da tuberculose, para a necessidade de programas de saúde como o da tuberculose não sejam enfraquecidos/desarticulados e se assista a um agravar do panorama sanitário. As doenças novas exigem uma atenção especial, mas não podem levar a pôr em causa o trabalho corrente de programas como o da tuberculose, da malária e todo o programa mundial de vacinação.
Do ponto de vista individual ou familiar, no nosso caso ? num país como Portugal, onde a doença é curável e controlável ? apenas precisamos de não subestimar os sintomas suspeitos de tuberculose (a tosse arrastada, a expectoração persistente, a febre baixa e a quebra do estado geral lenta e progressiva) e recorrer aos serviços de saúde.
Artigo publicado em "A voz dos reformados" março/abril 2022
por Dr. José Miguel Carvalho